Chegamos num dia interessante!
Lua nova em sagitário, as ruas já tem enfeites de natal, as atividades práticas em grupo vão encerrando seu ciclo antes das festividades, cada vez mais distante ouvimos o tic-tac de 2022 e o calor vem tomando conta do corpo inteiro com o quase-verão. Enquanto isso, outras energias extrapolando a vida, as ideias que de alguma maneira se acendem e queimam por inteiro até transmutar, é uma delas.
Comecei a escrevê-lo, nem sabia muito bem onde ia parar e confesso que até agora não sei se esse é um ponto que posso explicar. Precisava dos seus bons anos de maturação, nutrindo-se de substâncias psicoativas necessárias da própria adrenalina do sentido da vida. Precisava, a escritora, viver realidades para além das vividas até então. É hora de voar.
guerras & acordos de paz sempre teve essa característica de mover-se por aí, entre a cidade baixa e a cidade alta, entre o nordeste e o sul, entre o calor e o frio. E assim foi tomando seu próprio rumo, mostrando sua cara passo a passo da caminhada.
Começou com uns versos pouco poéticos beirando as margens de agendas universitárias, inspiradas na coragem dos poetas e poetisas que circulavam entre o Beiru e o Subúrbio Ferroviário de Salvador, de quilombo em quilombo, declamando a leveza da mais pura cotidianidade na cara do povo dentro do moderno navio negreiro. Meu olhar de deslumbre denunciava meu coração bater em letras tremidas no papel branco da agendinha que comprei em Cachoeira, no movimento do ônibus. Mais ou menos seis anos neste trajeto. Depois entendi a eficiência do bloco de notas do celular, mas acabei me rendendo ao Google Docs.
Recém terminava um relacionamento de outros tantos anos mais, quando o conheci no bendito! aplicativo. Digo bendito pois já deu certo para mim várias vezes. Várias! De repente nos encontrávamos no final do expediente de ambos nem que fosse cinco minutos no metrô. Os vagões eram esses portais que nos teletransportam a outras realidades.
O que fazer se o consagrado vive perto do estágio ou da universidade? Viver com ele? kkk (rindo de nervoso) Tudo pelo mais prático né, minha gente!? Por sorte já tinha minha própria casa, o que facilitava o rolê quando era necessário tomar meu próprio tempo.
Pensando bem, esse livro pode ter nascido mesmo dentro de um buzú ou no metrô… Era 2018 e se chamava “Textos de vivências reais de alguém que não queria se relacionar outra vez”. Risos. Era óbvia a novela que viria, só não se sabia quando. O Lendo Vocês, iniciativa que divulga produções literárias de mulheres negras da comunidade do Projeto Lendo Mulheres Negras, encabeçado por Adriele Regine e Evelyn Sacramento, foi a porta de entrada para entender onde essas palavras poderiam chegar e saber que eu não caminhava sozinha.
Um par de páginas que aos poucos se transformaram em 17 momentos de uma história que teve seu início ao fim narrada em primeira pessoa, como quem vive tudo a flor da pele. 3 capítulos inteiros onde a cada vez que leio, extraio a sabedoria do pensamento daquela mulher, a que fui. Um e-book digital que precisou atravessar a fronteira de si mesmo para subverter suas próprias limitações.
Até então, nunca pensei ser possível escrever um romance até que o escrevi, revisei seus textos muitas vezes, depois contei com preciosa colaboração de Júnia Viana, uma mana mineira que nunca nem vi pessoalmente mas que um amigo que me hospedou durante a viagem me recomendou de olhos fechados; diagramei e produzi 17 ilustrações em lugares e momentos completamente diferentes por motivos muito variados… E sim, brevemente será publicado de maneira independente.
Nessa linha do tempo, muitas foram as indagações a respeito de editora, publicidade e decidi que seria tudo do meu jeitinho mesmo, no meu tempo. Enquanto isso fui recheando a vida com um par de experiência mais e digo que não falta conteúdo para os dedos que batem nas teclas. Tô feliz de ter chegado até aqui!
Escrever me dá a oportunidade de olhar para as Vanessas do passado, enquanto a do presente brinca de desenhar o futuro. Quem sabe você não lê essa versão em breve?